segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Coleção de Responsa

No final dos anos 80, o paulistano Tadashi Yokoyama era mais um dos garotos que andavam de skate e sonhavam com os shapes mais cobiçados da época. Hoje, aos 36 anos, garimpa e adquire (via Internet) os shapes que representam aquela que foi uma das melhores fases de sua vida.

Com um acervo que já ultrapassa os 70 decks, Tadashi, ao mesmo tempo em preserva uma parte importante da história do skate brasileiro e mundial, vai inundando de felicidade sua consciência com cores e concaves que são pura memória afetiva.


Confira entrevista exclusiva.






Quando você começou a andar de skate?


Eu comecei a andar de skate em 1987. Morava numa cidadezinha do interior e só tive o primeiro contato com o skate porque um vizinho que acabara de se mudar pra minha rua tinha ganhado um skate do pai. Eu lembro que na escola eu e um amigo tínhamos que entregar um trabalho de educação artística, com tema livre. Tive a ideia de montar um shape e pedir emprestado os trucks e rodas desse meu vizinho. Fizemos um shape usando tábuas de construção, tinha quase dois palmos de largura por um metro de comprimento e pesava uns 8kg. A professora de educação artística não manjava nada de skate, acabei tirando 10, e o skatão fez o maior sucesso no intervalo! Depois devolvi os trucks e rodas para meu vizinho, mas o vírus do skate já tinha me infectado. Ganhei um skate no Natal de 1987, com bilhas, eixos falsificados, mas fui comprando peças melhores com o passar do tempo. Meu pai tinha uma pastelaria perto da Prestige (skatepark paulistana extinta no início dos anos 90), então eu estava sempre por lá. Aula de manhã, skate no resto do dia. Uma das melhores épocas da minha vida.






E aí você deu uma parada com o skate, certo?


Isso foi em 1991. Estava com 17 anos, e meu pai me botou pra trabalhar, o horário foi ficando apertado, comecei a namorar também, até que parei de vez no final de 1992, mas continuei sempre acompanhando o que rolava no skate.






Quando começou a idéia da coleção? Qual foi o primeiro shape que você pegou pra colecionar?


Em 2007, procurando uns equipamentos de pesca no Ebay, por acaso encontrei um shape do Rob Roskopp pra vender. Era um reedição do model da santa Cruz que fez muito sucesso na década de 80 e aquilo me deixou muito contente, porque eu nem imaginava que iria ver de novo esse shape. Me empolguei e comprei, mas a minha intenção não era colecionar e sim montar pra andar. Quando o shape chegou, não tive coragem de ralar, era clássico demais. Aí resolvi procurar algo mais simples, mas comecei a encontrar todos os shapes que sonhava em ter e não tinha por falta de dinheiro.






Quantos shapes você tem na coleção hoje?


Hoje em dia são mais de 70 shapes, sendo 90% deles originais da época e 10% de reedições. Alguns nem estão nas paredes por falta de espaço, e isso porque procuro limitar minha coleção na época em que andei, que foi de 1987 a 1992. Tenho três ou quatro decks que são anteriores a 1987 mas fazem parte da coleção porque foram muito influentes pra mim. A coleção ainda esta dividida entre nacionais, que são os mais difíceis de achar, Santa Cruz e Powell Peralta com alguns intrusos da Vision, Sims e H-Street no meio.






Quais são os três shapes nacionais prediletos da sua coleção? E os três gringos?


Dos nacionais, os Lifestyle: Minichilli, Rui Muleque III (verde água) e o do Fernandinho Batman II (chumbo). Não preciso nem dizer que sou fã da arte do Billy Argel, né? Dos gringos, o Santa Cruz Steve Alba "Tiger", o Natas Kaupas V da Santa Monica Airlines e o Tommy Guerrero “Iron Gate”, da Powell Peralta.






Qual foi o shape mais caro e quanto custou?


O mais caro era o model do Natas Kaupas "Panther", que custou mil dólares. Mas, nesse exato momento, tô com um deck parado na Receita Federal, um Santa Cruz "Street Creep", que na minha opinião é a obra prima do mestre Jim Phillips, numa cor bem difícil de conseguir e que provavelmente vai me custar os olhos da cara, já que ele será taxado em pelo menos 60% de imposto.






Quanto você imagina que vale sua coleção?


Nunca tinha pensado a fundo sobre isso até você me perguntar. Fiz um levantamento de quanto paguei nos meus decks e tomei um susto! Mas acho que pra mim ela é “priceless” (sem preço), porque existe todo o prazer de procurar, ir atrás da história do skatista, do gráfico, do fabricante, é um processo muito prazeroso. Infelizmente aqui no Brasil a nossa história está apodrecendo nos porões das casas de nossos pais, enquanto nos EUA e na Europa eles estão anos à nossa frente em termos de preservação. Se não fosse pela iniciativa do Sesper, com o Re:Board, a situação seria ainda pior.






Como você busca shapes na Internet?


Eu frequento o fórum de um site americano sobre decks antigos chamado skullandbonesskateboards.com, dedicado a compra, venda e troca de tudo que envolve o universo do skate old school.






E o cease and desist?


Cease and desist é um termo jurídico americano, de fato um pedido para cessar e desistir da produção de algo, geralmente emitido pelo advogado da empresa detentora dos direitos e que se sinta prejudicada. Os caras criaram uma empresa californiana com este nome (Cease and Desist) e atuam na brecha da lei, fazendo shapes em quantidades controladas, de modo que não sofram sanções graves. Eles fazem reedições não autorizadas de diversas marcas americanas, incluindo Santa Cruz, World Industries e Powell Peralta.


Aqui no Brasil eu fiz uma comunidade no Orkut chamada "eu coleciono shapes old school" que tem apenas 26 membros, mas que são muito camaradas e participativos com trocas de informações sobre os decks e curiosidades do skate.






Como foi a história do roubo e da recuperação de alguns shapes?


Na verdade, não foi bem um roubo. Eu fui no evento da Ladeira da Morte (set/2010) com minha esposa e meus dois filhos pequenos, e aproveitei pra levar dois decks, um do Fernandinho Batman e um do Rui Muleque (apesar do Rui não ser downhillzeiro, eu imaginei que talvez ele pudesse estar lá) pra pedir para autografá-los. Coloquei os dois dentro de uma sacola de pano pra não arranhar, guardei no porta malas e chegamos lá as 11:30h. Logo depois, as crianças começaram a ficar com fome, e fui almoçar no Shopping, com o plano de voltar pro evento mais tarde. Indo pro carro, encontrei uns amigos, comecei a conversar e minha esposa sentou num banco e largou os shapes. Quando terminei a conversa, colocamos as crianças no carro e fomos almoçar. No shopping, me ocorreu de perguntar pra ela se ela havia colocado os shapes no carro, e ela respondeu que sim, mas meio sem convicção. Corri pro carro e adivinha: não estavam lá! Voltei voando pra praça, mas ninguém sabia onde os shapes tinham ido parar. Fiquei louco de raiva, minha esposa começou a chorar, porque ela sabe bem como é importante pra mim. Mas entendi, pois ela estava preocupada com as crianças. Alguns amigos que souberam do ocorrido me ligaram, postei a notícia ruim no Orkut... 30 dias depois do ocorrido, uma lojista amigo meu, que não sabia da perda, me ligou e disse que tinha dois shapes antigos. Fiquei feliz em saber, já fui logo imaginando duas novidades pra minha coleção e perguntei quais shapes eram, e aí ele começou a dizer: “Parece que foram encontrados lá na Ladeira da Morte...” A euforia não me deixava falar, achei que ia ter um AVC ou coisa do tipo! Era mais de meia noite, passei a noite em claro esperando o dia amanhecer. No dia seguinte eles estavam lá, até na mesma sacola. O cara que encontrou trocou os shapes por umas roupas na loja desse meu amigo. Paguei as roupas que o cara levou, peguei meus decks de volta e nunca mais tiro nenhum de dentro de casa. Queria até agradecer a todo mundo que me ajudou nessa busca.

fonte: www.cemporcentoskate.com.br




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